30 - 25 - 15

Navios foram feitos para navegar, não para ficarem nos portos de partida.
Navios foram feitos para navegar, não para ficarem nos portos de partida.

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Estamos em 2024 e dei-me conta de que lá se vão 30 anos desde que ingressei da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Naquela época não havia Internet, e-mail, redes sociais, telefones celulares. Era um mundo analógico com grandes salas repletas de pranchetas. Desenhar com o auxílio de um computador ainda era visto como um diferencial entre os arquitetos.

Assisti as primeiras aulas ainda como menor de idade. Completei 18 anos apenas algumas semanas depois. O professor Isaac notou minhas feições adolescentes. Eu era alto, magro e ainda tinha espinhas no rosto. Ele disse em alto e bom tom que, se dependesse dele, ninguém ingressaria na universidade tão jovem. Garotos entre 17 e 18 anos deveriam passar um ano viajando, para amadurecer um pouco.

Na ocasião, não concordei, pois me orgulhava de nunca ter sido reprovado na escola e de não ter feito cursinho para passar no vestibular. Somente anos depois compreendi o que ele queria dizer. De fato, aos 18 anos ainda era ingênuo demais para ser bombardeado com slides sobre as obras de Le Corbusier e Niemeyer, com aquelas professoras fumando um cigarro depois do outro, discursando sobre as correntes ideológicas e o modernismo.

Que alívio quando começaram a falar de Frank Lloyd Wright.

Ainda não tinha habilitação para dirigir. Nem veículo. Tomava três ônibus para ir até a faculdade e mais três para voltar. O transporte público sempre foi complicado. Mas quando meu pai me emprestou um Fusca 1972 azul, tudo melhorou. O carrinho era velho, mas gostava dele. As estradas eram vazias. Engarrafamentos? Só em São Paulo e no centro de Campinas.

Foram dias de luzes. É verdade que tive dificuldades para passar em Cálculo Diferencial e Resistência dos Materiais. Os anos de escola fundamental pública cobraram a conta. Porém, nas demais disciplinas, consegui bons desempenhos. Nada excepcional, salvo em algumas ocasiões. Havia muita coisa para estudar e trabalhos a serem entregues simultaneamente. Era preciso dividir as tarefas em nosso grupo e, por vezes, varávamos noites para concluir as demandas, tomando café e ouvindo Black Sabbath.

Aprendi a ouvir rock pesado com os novos colegas. Um deles me convenceu a ir no show do AC/DC no Pacaembu, em São Paulo. Aí já era. Para quem cresceu ouvindo Beatles, a faculdade abriu um leque de possibilidades também na boa música.

Não me formei apenas como arquiteto na PUC de Campinas. Formei parte do meu caráter, também.

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A conclusão do curso ocorreu em dezembro de 1998. Recebi nota 9 no TGI - Trabalho de Graduação Interdisciplinar. O professor Boris queria me dar 10, mas a Dona Amargura me daria nota 6 para baixar a média. No consenso, me deram 9. Nota 10? Só para a moça do partido e para o filho da outra professora, visitante na avaliação. Naqueles dias isso era importante para mim, até descobrir que os clientes não sabem o que é um TGI.

Há 25 anos recebi meu diploma. Fui até a inspetoria do CREA (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia) em Campinas, retirar meus primeiros formulários de ART (Anotações de Responsabilidade Técnica). A atendente, sisuda, estava a caminho de se aposentar. Ela me ensinou a preencher aqueles documentos com folhas carbonadas. Liberavam dez unidades de cada vez. A gente não podia rasurar.

Antes de protocolar os projetos na Prefeitura de Paulínia, tínhamos que ir até a agência do INSS, também em Campinas, para fazer a matrícula de cada obra. Era um dia perdido. O jeito era acordar de madrugada e pegar a senha de atendimento. Por vezes, o sistema falhava e pediam para voltar no dia seguinte. O povo reclamava. Eu não. Tentava ser educado e compreensivo com as funcionárias públicas. 

Uma delas teve dó de mim, que ainda parecia um moleque, embora já portasse um telefone celular junto ao cinto da calça. Certa vez ela cochichou: "faz o seguinte, vá caminhar pelo centro da cidade, pois quando a matrícula sair te dou um toque e você vem retirar". Esqueci o nome dela, mas não da gentileza.

Ainda não havia Internet Banking. Tinha que pagar pelas ARTs e outras despesas burocráticas na agência bancária, com filas intermináveis. Deixava acumular as coisas para pagar de uma só vez. Aproveitava para conversar com as pessoas. Nunca se sabe quando podemos prospectar um cliente. E as histórias chegavam para nós. Certa vez, um policial militar contou sobre como pegaram um bando que praticara um latrocínio, vitimando um menino de 5 anos. Nunca esqueci.

Na ocasião, Paulínia tinha apenas dois edifícios de apartamentos: um no centro da cidade e outro em Santa Terezinha. Loteamentos fechados? A novidade era o Okinawa. Depois lançaram o Campos do Conde. No começo, era tranquilo para acompanhar as obras nestes lugares. Mas a paranoia com a segurança só aumentou. Um dia, numa portaria, o guarda particular pediu para abrir o porta-malas do carro. Respondi:

- Sou arquiteto. Você acha que vim aqui para roubar um martelo?

Sim, a nossa profissão já foi mais respeitada.

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Desde o primeiro mês de carreira, economizei parte dos rendimentos para o futuro. Fiz bons projetos e alguns bons negócios. Com isso, consegui terminar a construção da nossa casa em 2009. Já podíamos casar. O dinheiro para a lua de mel, porém, ficou curto. Nada de Paris. Nada de Caribe. Fomos para um hotel em Águas de Lindóia, não muito longe. As mini férias, as primeiras em dez anos, duraram apenas quatro dias úteis. Na primeira quinta-feira depois da festa, já estava de volta ao batente, num lar novo, num escritório novo, numa vida nova.

Lembro de acordar e estranhar o teto, olhar para o lado e notar que a porta da suíte estava na direção oposta. Lembro da primeira vez que fui fazer compras com minha esposa. Da primeira vez que fui visitar meus pais e senti o cheiro de um tempo que ficou para trás. Felizmente, estava sem tempo para sentir as mudanças. O ritmo de trabalho me deixava entusiasmado, começando uma nova poupança para voltar a empreender no mercado de imóveis.

Poucos anos depois compramos um terreno num loteamento fechado. Ficamos apertados de novo, sem dinheiro para pagar as taxas do cartório que faria o registro da escritura na matrícula do lote - o que só conseguimos no mês seguinte. Os trocos na carteira não davam sequer para uma pizza, mas saímos para comer cachorro quente. O senhor sentado na mesa do lado me chamou pelo nome. Pediu para ir até o escritório dele no dia seguinte, pois me daria um projeto para fazer. Ouvir aquilo foi um alívio.

Assim, as coisas foram se ajeitando, os terrenos valorizando, os projetos acontecendo. A Internet foi tomando conta das nossas rotinas e o Google me trazia bons clientes. Meu escritório figurou por anos nos primeiros resultados para pesquisas de profissionais em Paulínia. No entanto, o Google também começou a complicar minha relação com alguns contratantes, que chegavam no escritório com uma pasta de imagens de outros projetos e até algumas plantas coletadas "de graça" na rede.

Reeducar um cliente que se pensa expert em construções, dado que passou alguns fins de semana pesquisando no Google, passou a fazer parte do escopo de trabalho dos arquitetos profissionais. Se antes eles transpareciam autoridade perante os leigos, alguns passaram a ser vistos como meros despachantes de projetos.

Porém, se tem algo que a experiência me trouxe, é que não são apenas os clientes que escolhem os arquitetos: estes também podem - e devem - escolher para quem vão trabalhar. Para tanto, é fundamental não depender de apenas uma fonte de renda. O bom arquiteto precisa empreender, sempre que possível. Além disso, deve investir suas economias a ponto de obter renda passiva, seja com imóveis ou com ativos do mercado financeiro.

Sobre isso, poderemos conversar em outra ocasião. Basta salientar que o tempo não corre: voa. Lá se vão 30 anos desde o começo da faculdade, 25 desde o começo da carreira e 15 desde o casamento.

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Feliz Natal e Próspero 2024!

Feliz Natal e Próspero Ano Novo! São os votos do seu amigo Jean Tosetto!

Quando éramos crianças, pedíamos as coisa para o Papai Noel, ou quem sabe para o Coelhinho da Páscoa. Para a Fada dos Dentes? Éramos incentivados por nossos pais a cultivar um mundo de fantasias. Provavelmente eles já sabiam da dureza da realidade e apenas queriam nos preservar.

Nós crescemos, mas não conhecemos o mundo dos nossos país. Aquela realidade não existe mais. 

Continuamos pedindo coisas. Agora para o Google, para o ChatGPT ou quem sabe para o gerador de imagens do Bing. Saímos do reino encantado da fantasia e migramos para o reino encantado da tecnologia, da inteligência artificial.

Ainda precisamos encontrar nós mesmos. Conhecer nossa essência e descobrir nossa realidade. Será que a religião tradicional pode nos ajudar? Essa é uma boa pergunta, especialmente quando o Natal se aproxima.

Quem vai recusar uma dose de ilusão, levando um filho para ver o Papai Noel no Shopping Center? Quem vai recusar a ajuda de um robô para resolver um problema em menos tempo?

Os benefícios da fantasia e da tecnologia estão aí para atenuar a dureza da rotina. Mas temos que avisar para ambos que nós ainda estamos no controle e que não vamos nos perder nos recantos desses encantos.

Se a religião e a filosofia noz trazem algo perene e orientações para nos guiar na caminhada por este percurso pantanoso que se apoia em solo instável, então que a gente possa tirar bom proveito de ambas, também.

Tudo o que nos aproxima do autocontrole, do autoconhecimento e da autoconfiança é bem vindo.

É isso que desejo para você agora e sempre.

Feliz Natal! Feliz 2024!

Jean Tosetto

Valuation: Introdução à arte e à técnica de precificar ações

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Saber a diferença entre preço e valor de uma ação é a base do Value Investing - que permite ao investidor buscar a margem de segurança em sua análise.

Sinopse


Em 26 de janeiro de 2023 acessamos a área do assinante da Suno. Em destaque, a edição número 1230 da newsletter Suno Call, publicada nos dias úteis por uma equipe comandada pelo fundador da empresa, Tiago Reis. Trata-se de um repositório de informações preciosas que já rendeu duas coletâneas: “Lições de Valor com Warren Buffett & Charlie Munger” e “Expoentes do Value Investing”.

Por meio desses livros, o leitor pode assimilar o conhecimento essencial para se aprimorar como investidor de longo prazo, dado que as mensagens são escritas numa linguagem simples e direta que, entretanto, não deixa de se aprofundar nos temas mais relevantes.

Valuation: Introdução à arte e à técnica de precificar ações” segue a mesma receita, mas vai além, ao complementar os textos selecionados sobre o assunto com um conteúdo elaborado exclusivamente para este livro, colocando em prática a teoria apresentada nas quatro partes anteriores, levando em conta as fórmulas e os métodos mais utilizados pelos profissionais do ramo. Esta tarefa foi confiada ao João Daronco, integrante do time de analistas certificados que são os responsáveis pelo sucesso das carteiras recomendadas pela Suno.

Por não considerar apenas os dados financeiros das companhias e fundos estudados, mas também a postura de seus gestores, a conjuntura macroeconômica e a influência das emoções no conjunto dos agentes no mercado de capitais, é que os analistas da Suno, técnicos por excelência, praticam também a arte de analisar ativos e desenvolver seus Valuations, cujas premissas adotadas também podem variar de analista para analista.

Este livro versa justamente sobre como o trabalho de avaliação de ativos é desenvolvido na Suno, citando e comentando as principais referências de quem domina o assunto em caráter internacional, como Aswath Damodaran, Philip Arthur Fisher, Howard Marks, Michael Shearn, Christopher Browne, Warren Buffett, Charlie Munger e Benjamin Graham, entre outros.

Os artigos selecionados das quatro partes iniciais foram enriquecidos com ilustrações oriundas do Portal Status Invest, cujas legendas trazem exemplos de como usar esta ferramenta disponível na Internet para facilitar a abordagem primária a respeito das empresas listadas no Brasil e nos Estados Unidos, dado que, muitas vezes, o primeiro passo que um analista realiza numa rodada de estudos é justamente utilizar bons filtros para saber o que deve e – principalmente – o não deve ser investigado.

Não é pretensão desta obra ser um documento definitivo sobre como analisar ativos do ambiente de renda variável. Ao contrário, trata-se de um ponto de partida que incentivará os leitores a efetuarem suas primeiras avaliações por conta própria, caso ainda não tenham lido outros livros bem-sucedidos da Suno, como o “Guia Suno Dividendos”, o “Guia Suno de Contabilidade para Investidores” e o “Guia Suno Small Caps”. Aqueles que já tiveram a oportunidade de ler estas obras, terão aqui um profícuo complemento de seus teores, reforçando os aspectos que jamais podem ser ignorados pelos investidores adeptos do Value Investing, como a margem de segurança e a relação entre preço e valor, dado que preço importa. Ler também.

Sobre os autores


Tiago Reis (1985) é formado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo. Acumula experiências no mercado financeiro desde 2001 e foi sócio fundador da Set Investimentos. Fundou a Suno em outubro de 2016.

João Daronco (1997) é engenheiro civil com mestrado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde também é doutorando. É analista CNPÌ de equities com foco em ações de empresas listadas na Bolsa de São Paulo, incluindo as Small Caps.

Sobre o editor


Jean Tosetto (1976) é arquiteto e urbanista graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, São Paulo. Tem escritório próprio desde 1999. O autor e editor de livros é adepto do Value Investing e colabora com a Suno desde janeiro de 2017.

InvesteMentes: O mundo dos investimentos ao seu alcance

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Desenvolver a mentalidade de um investidor bem-sucedido: é tão importante quanto desenvolver um patrimônio suficiente para a independência financeira.

Sinopse

Para investir bem em Bolsa de Valores não basta ter conhecimento técnico, é preciso ter o controle emocional que revele uma mentalidade equilibrada para lidar com os altos e baixos da renda variável.

Isso não é algo que se aprende integralmente apenas estudando as teorias, mas que pode ser desenvolvido com a prática e com a observação daqueles que já estão neste caminho há mais tempo e podem nos legar bons conselhos.

Este é o caso de André Prates, formado em Ciências Econômicas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro em 2007, e que acumula mais de 15 anos de experiência no mercado de capitais, já tendo convivido com vários ciclos econômicos, no Brasil e no mundo.

Analista Financeiro com CNPI, Prates tem passagens por importantes empresas em seu currículo, como Ativa Investimentos, Thermes Participações S.A. e Eleven Financial Research.

Entre novembro de 2019 e agosto de 2022 ele atuou como colunista da Suno Research, assinando o relatório InvesteMentes, direcionado para investidores iniciantes, que começam suas jornadas em Bolsa de Valores com o auxílio do projeto Suno Start, que tem beneficiado milhares de investidores brasileiros.

Este livro reúne 30 textos selecionados entre as 71 edições do InvesteMentes. Neles, você encontrará uma linguagem simples e acessível para assimilar algumas das melhores posturas com vistas a uma mentalidade sadia para lidar como mercado financeiro, sempre baseada no bom senso, com o foco no longo prazo.

Sobre o editor

Jean Tosetto (1976) é arquiteto e urbanista graduado pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, São Paulo. Tem escritório próprio desde 1999. O autor e editor de livros é adepto do Value Investing e colabora com a Suno desde janeiro de 2017.

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